quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Siamesas

Compartilharam o mesmo ventre. Não simultaneamente. Estiveram lá em tempos distintos. A primeira ocupara o protetor ventre materno escondendo-se de um mundo em crise. A segunda, ocupara-o se mantendo em segurança dentro da mesma crise, agora agravada, e, lá de dentro, ouvia a primeira dizer: "ela é Bárbara".
A certeza de que já se conheciam antes mesmo de chegarem ao mundo consciente só crescia com o tempo e na mesma medida em que cresciam. Talvez em outras épocas ocupassem lugares próximos. Tão próximos que elas já fossem assim: muito íntimas. E, talvez, a primeira visitasse a segunda, esperando pelos seus agrados com comida boa e farta, feita com carinho e o dom; o dom que hoje ela conhece muito bem e que não parece ser de agora. E a segunda, quem sabe, esperasse notícias boas trazidas pela primeira, ou até mesmo apenas o corpo presente dentro de casa; uma visita agradável.
Hoje, fazem as mesmas coisas. Gostam de tudo - ou quase tudo - igual. Gostam-se mais do que nunca. Entendem-se e desentendem-se apenas com um olhar. Brigam com um gesto e fazem as pazes com dois. E, embora não tenham dividido o mesmo ventre simultaneamente, sentem-se siamesas.

Um comentário:

Bárbara Parente disse...

Você me conhece muito bem e sabe como me senti quando você foi morar longe. E eu tinha que entender que era tudo questão de necessidade e "visão de futuro". Eu entendi, com a cabeça, porque o coração ainda sentia sua falta em cada canto dessa sala - principalmente nas tardes solitárias de violões.
Eu não fui a única a sentir sua falta, mas quando você se foi era como se eu tivesse perdido um pedaço de mim... NINGUÉM poderia preencher esse vazio se não você. Escrevi depoimentos que te fariam chorar, tocava músicas que me lembravam você, tudo isso de propósito e com uma finalidade um tanto egoísta... É que eu queria muito que você não se esquecesse de mim, porque eu tinha medo que isso acontecesse.
Hoje eu já entendo tudo de um modo diferente e espero ir morar com você em breve.
É muito bom saber que não se esquece que "viemos do Sião há três meses e nos chamam de siameses." HAHAHA.
Não importa o que aconteça, você é quem faz com que eu me sinta completa e eu te amo, irmã.