quarta-feira, 15 de junho de 2011

Inopinado

Por quase toda a sua vida não sentiu. Questionava-se se era algum castigo por coisas que não se lembrava de ter feito ou se era só o mundo lhe pregando uma peça de muito mau gosto. E, finalmente, quando achou que as circunstâncias em que se encontrava eram advertências para que ela não fizesse parte daqui, ela sentiu. Sentia o sangue correndo em suas veias quando ela estava por perto. Sentia suas funções fisiológicas se desconfigurarem do padrão normal. Seus batimentos cardíacos acelerarem. Uma incessante saudade. E, de repente, tudo se esvaiu. Era como se nunca tivesse. Passou como um furacão, devastando tudo, deixando-a pensando que talvez não estivesse. E não esteve.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Vivo, Existo.

Viver e não se sentir vivo. Estar vivo e não viver. Assim que se sentia desde quando podia se lembrar dos seus sentimentos. Hipocrisia. A verdade é que ela não sentia. Não tinha sentimentos, nem pena, nem culpa. Muito menos remorso. E sua incapacidade de ter todas essas coisas dentro de si a incomodava. Era viver e não viver. Era existir. E mesmo que, se de alguma forma, ela resolvesse deixar de estar viva, encontraria-se em um eterno paradoxo, pois continuaria existindo dentro daqueles que sempre sentiram.

terça-feira, 29 de março de 2011

Fatos

Depois de muito tempo ela acordou e resolveu que as coisas deveriam mudar. E, de fato, as coisas mudaram, só que para pior. Não que ela tivesse feito alguma coisa terrível ou desejado que coisas ruins acontecessem para a sua outra metade - aquela que vive em outro corpo; ela simplesmente não sabe como lidar com os fatos. Sua vida parece de cabeça para baixo e isso não faz a menor diferença para ela. Ela não sente, não vê e não vive. Ela é apenas um saco de carne, ossos e sangue se mexendo por aí.